Seria o Fim da Pediatria?
A vida do pediatra está cada vez mais fora de controle. São constantes as exigências dos responsáveis pelo acesso direto ao profissional, contato 24h e uma relação médico paciente impecável para que o adequado sucesso do acompanhamento aconteça. Como se não bastasse, ainda precisa responder uma enxurrada de mensagens e áudios no estilo podcast acumulados no WhatsApp.
Entre rápidas consultas, tempo para posicionamento digital, plantões e estudo, ainda tem de sobrar tempo para si, suas famílias e para o seu lazer quando, é claro, os pais de seus pacientes não estão em apuros. Um desafio.
Os especialistas em marketing digital e ciberposisionamento, garantem que o sucesso da carreira do pediatra está na “produção de conteúdo que deverá ser entregue pronto e gratuitamente no Instagram em lives nas quintas-feiras às 19:57″ – detalhe: para um público que sequer conhece você e o seu trabalho.
O conteúdo banalizado esconde uma dura realidade: a mercantilização da pediatria e da medicina como um todo. A forma de se comunicar com os pais mudou: a informação, que antes tinha algum filtro, hoje cedeu espaço para publicações sem nenhum selecionador nem pré-requisito. Questiono a proporção das boas ideias, divulgadas de maneira responsável, em relação às trends e desinformação.
A sociedade nunca precisou tanto da boa medicina e de informações éticas, com excelência científica, apesar de sua evidente deficiência na capacidade de compreende-las. Cada indivíduo deseja seu lugar de fala, tornando-se receptor e emissor de conteúdos, mesmo que nada tenha a dizer.
Numa época de excesso de informação, predomina a ignorância e a confusão em forma de títulos sensacionalistas e promessas milagrosas. A escala da internet não é apenas um acelerador incontrolável. Desnuda uma realidade em que algo se perdeu, um lastro, uma ancoragem na relação médico paciente; algo básico e tradicional, mas imprescindível.
A boa comunicação acontece através do formar, informar e educar, necessariamente nessa ordem. Isso desmascara a própria realidade: tolos anônimos propagando a desinformação para pais e trazendo claro prejuízo às crianças. Estão travestidos e legitimados pelo número de seguidores comprados, pela injeção de investimentos pesados em marketing desgovernado e Storytelling da carochinha. A desinformação de conteúdos pediátricos não é algo que se postule ou defenda, mas ocorre com frequência. Quando tudo que se consome é narrativa, não há mais necessidade de lastro científico. Um grande equívoco.
O que vemos nas Redes Sociais é o bárbaro desejável onde tudo é “permitido” para conseguir a atenção dos internautas. Os absurdos geralmente começam com frases motivacionais vazias como “um dia dirão que foi sorte”, “não há miséria que resista ao trabalho”. A audiência vai sendo criada e os seguidores vão se acumulando, trazendo uma autoridade vazia.
Cria-se a necessidade de reforçar os discursos para manter os fiéis seguidores satisfeitos, então as bizarrices afloram: “autismo tem cura”, “diabetes tem cura”, “não vacine seu filho”, “o que os médicos não lhe contam”, ” a indústria farmacêutica não quer que você saiba disso”. Os resultados começam a aparecer dias depois nos pronto atendimentos hospitalares. Em alguns de meus plantões noturnos já atendi crianças intoxicadas com “creolina para tirar mal olhado”, “enema de água sanitária para curar o autismo”, “jejum de 36 horas para curar a DM1”.
Tudo em troca de likes, em meio ao “merchan” de suplementações infantis desnecessárias – “não existe almoço grátis”. Entre celebridades e anônimos, ídolos e fãs, visíveis e invisíveis, a relação é bem óbvia: quanto mais likes, maior a chance do absurdo.
Não bastasse isso, também há a cópia no absurdo (não o plágio, pois não há autor que se responsabilize) e a inversão da lógica: não se trata da tese “o que é bom se copia”, mas “o que se copia é bom” o que acaba dificultando ainda mais a tentativa de trazer informação à luz da ciência, precisando, muitas vezes, intervenção das próprias sociedades médicas em campanhas nacionais.
Quando todos os conteúdos ou dancinhas são coletivos em sua produção e recepção, como legitimar conteúdos de relevância frente ao que a sociedade do espetáculo preconiza? Como proteger nossas crianças dessa desinformação desgovernada?
Nessa relação surge uma resposta – que parece ser a única possível para muitos pediatras que tentam, a qualquer custo, fechar suas agendas de consultas no particular: “o pediatra também tem de aparecer” – aquela velha história: “o preocupante é o silêncio dos bons”. Então, aparecem os administradores, publicitários, experts de mercado, empresas e industrias que mobilizam o pediatra em grandes vitrines, forçando-o a se comunicar sem necessidade de sentido.
Distrair os seguidores passou a ser, certamente, uma estratégia de sobrevivência, porém a distração não suporta conteúdo sério e científico. E o pior disso tudo: em que momento está sendo considerada a boa relação médico paciente? O espaço usado para distanciar o fato do fake não é mais um espaço de relação, mas um espaço de distração aleatória. Seria o fim da pediatria? Dancinhas do TikTok, anúncios sensacionalistas, inverdades científicas; receita de bolo, afinal, se dá certo com aleatórios sem formação alguma e sem nada a comunicar, porque não daria com pediatras?!
Entramos na era da comunicação médica sem sentido, cujo foco é a satisfação dos seguidores. Nessa comunicação esquizofrênica, tudo que se faça é legítimo, pois toda crítica se tornou preconceito.
Pressionada pela era da publicidade, a pediatria virou um produto a venda em redes sociais onde impera o individualismo coletivo que não mais exige um RQE, tampouco um CRM ou qualquer outro registro da saúde.
Os que ainda o possuem estão saindo dessa posição em detrimento de um engajamento na “plataforma” a qual não tem sequer a pretensão de fazer essa distinção. Um mundo que se torna mais embalagem do que embalado, mais imagem e aparência, do que revelação. Tudo comunica quando o conteúdo é dispensável e gratuito. Aquela clássica história: o conhecido vence o bom. Nenhuma Inteligência Artificial salvará a infância dessa estupidez.
No meio de tudo isso, o que será das crianças?
No momento elas estão muito bem, obrigado. “Quietas e sem incomodar”. Estão sendo educadas pela indústria dos games, computadores, tabletes e se alimentando de salgadinhos e refrigerante. Parecendo pequenos adultos envelhecidos e erotizados, cultuando a violência e descompensadas em doenças crônicas. A sociedade falhou.
Talvez você e alguns poucos pediatras estejam conseguindo ver esse absurdo, a insustentabilidade do setor e o potencial das consequências irreversíveis dessa relação. A pediatria está à beira do fracasso na tarefa mais importante que enfrenta: preservar a infância e guiar os pais para que criem a futura geração de forma saudável e coletiva. Cabe ao pediatra ajudar a reconstruir bases sólidas para esse recomeço. Outro desafio.
Prefiro ter esperança e pensar que o impossível de hoje, pode ser o possível do amanhã. Não significa abandonar as redes sociais, métricas e posicionamento, a questão mercadológica do consultório também é importante. Mas a dependência desorganizada e descompromissada nessa relação com o digital está afastando a pediatria do propósito genuíno dos pediatras e os colocando em uma concorrência desnecessária com charlatões que nada tem a dizer além de bobagem.
O ponto final de um tempo é (quase) pagina virada. Surgirão formas alternativas na relação médico paciente e isso é absolutamente normal – vida longa à pediatria. O que não pode ser considerado normal é a atual situação – o vazio na comunicação médico paciente – aqui seria, sim, o fim absoluto.
Então surge a Mádrin. Um sistema, sim digital, mas que propõe trazer essa virada de página que a situação exige. Uma ponte da vanguarda pediátrica com a ética digital. Um sistema desenvolvido por médicos e exclusivamente para o setor da pediatria. Auxilia o pediatra na relação médico paciente, no desafio de entregar a boa prática pediátrica de consultório e na reconquista de seu propósito. Uma rede social da saúde que possibilita acompanhamento constante e vígil na jornada de todos os seus pacientes com navegação própria e acionamento do pediatra quando necessário sem sobrecarrega-lo. Digitaliza todo o consultório do pediatra tanto na assistência, quanto na gestão. Possibilita posicionamento de mercado, fidelização de clientes e autoridade de ciência. Tudo isso é possível sem submeter o pediatra aos costumes ridículos das redes sociais tradicionais e suas distrações. A Mádrin surge como um divisor de águas. Com a Mádrin o paciente fica no centro do cuidado, acompanhado pelos profissionais protagonistas que o atendem e são responsáveis a esse fim. Com a Mádrin o seu propósito de ser pediatra é reconquistado.
Dr. Ricardo Reichenbach – Cofundador da Mádrin